Tenho saudades tuas, meu amigo.
Das palavras que trocávamos no silêncio do olhar.
Da cintilação dos caminhos que os nossos pés viajaram enquanto descobríamos sonhos diferentes de um mesmo futuro. E deles te rias porque éramos crianças tolas a brincar ao faz-de-conta, dizias. E era tão bonito o teu sorriso.
Do beijo simples que me deixavas na testa, quando nunca podias partir sem a ternura do olhar depois de uma discussão. Daquelas cheias de palavras azedas que morrem logo a seguir, diálogos que só os amigos entendem.
Da tua integridade honesta e tão forte que, às vezes, me fazia preferir a doçura leve da mentira, só porque doía menos. E ainda assim, nunca desistias da verdade só porque te custava mais.
Do tempo que sabias parar como se para a corda de um velho relógio de parede, sempre que partilhávamos o aroma de um café acabado de fazer. A pressa é a forma mais rápida de ser infeliz. Acreditavas. Com isso, compreendi que a paz é uma pausa de intimidade com a vida e o modo mais fácil de encontrar alegria.
Da fragilidade delicada que em ti despertavam as vozes de wind of change nas longas noites de agosto. E eras menino outra vez dentro de uma música que era tão tua.
Da maneira triste, mas grandiosamente linda, como me ofereceste a maior lição dos homens: que nunca podemos adiar um gesto de amor.
Porque um dia partimos e de nós apenas se faz memória um passado sempre presente.
Tenho saudades tuas, meu amigo.
Tenho saudades de encontrar num abraço o coração de quem me faz falta.
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